A ESTRADA REAL E A FILATELIA BRASILEIRA


A ESTRADA REAL E A FILATELIA BRASILEIRA

Entre fins do século XVI e princípios do XVII, começaram a aparecer os primeiros povoados na região de montanhas e minério descoberta pelos bandeirantes paulistas. Formavam-se, em geral esses povoados e arraiais em torno das catas de ouro e eram constituídos de ranchos e casebres cobertos de sapé. Pousavam no fundo dos vales e repontavam no alto dos morros as primeiras capelinhas de taipa.

 

 

Sobrecarta de V. DIAMANTINA para o Rio de Janeiro

 

 

MAPA DA ESTRADA REAL

 

 

Sobrecarta de PARATI para o Rio de Janeiro

Situando-se atrás dos maciços da Serra do Mar e da Mantiqueira, tornava-se difícil o acesso àquelas regiões montanhosas, o que valoriza ainda mais a ação dos bandeirantes paulistas.

A pé, quase sempre; a cavalo e em mulas, quando possível; plantando roças durante a caminhada; descendo ou subindo rios em canoas; valendo-se da experiência dos índios que escravizavam e lhes serviam de guias; orientando-se pelo sol e estrelas e tendo como pontos de referência, picos mais altos-os expedicionários, em entradas e bandeiras sucessivas, internavam-se pelos sertões.

CACHOEIRA DE BAEPENDI

Era escasso o ouro que os paulistas conseguiam em suas buscas pelo interior de sua Província. Relatos de tropeiros e bandeirantes davam conta de que no sertão das Minas Gerais dos Cataguás ele era abundante e de fácil obtenção.

CAMINHO VELHO

Diz Antonil (Cultura e Opulência do Brasil, p.164) que o primeiro descobridor foi um mulato que tinha estado nas minas de Paranaguá e Curitiba e, indo ao sertão com uns paulistas a buscar índios e chegando ao cerro Tripuí, desceu abaixo uma gamela para tirar água do ribeiro que hoje chamam de Ouro Preto. Metendo a gamela na ribanceira para tomar água e roçando-a pela margem do rio, viu depois que nela havia granitos da cor de aço. Sem saber o que eram e nem os companheiros aos quais mostrou os ditos granitos, souberam conhecer estimar o que tinham achado tão facilmente e só cuidaram que aí haveria algum metal não bem formado e por isso não conhecido.

 

 

TROPEIROS

“Chegando a Taubaté, não deixaram de perguntar que casta de metal seria aquela e, sem mais exame, venderam a Miguel de Souza alguns destes granitos por meia pataca a oitava, sem saberem eles o que vendiam nem o comprador que cousa comprava.”

Alguns dos granitos foram mandados ao Governador do Rio de Janeiro, Artur de Sá, que, fazendo os exames, concluiu que o material era ouro finíssimo.

O achado despertou os governantes para uma nova forma de aumentar o conhecimento das terras internas da Colônia e dos fundos do Real Erário. O empecilho: não havia estradas. O período: metade do século XVII.

Decidiu o governo pela abertura de caminhos que levassem às minas. O paredão natural Serra dos Órgãos, logo à frente da cidade do Rio de Janeiro, capital da Colônia era natural barreira às pretensões dos governantes. Optou-se, pois, pelo caminho marítimo até Paraty e dali, por terra, atravessando as terras de Piratini, embrenhar-se ao destino final, Ouro Preto.

SOBRECARTA DE CRUZILIA PARA PARATI DE 1767

É o que se convencionou chamar, nos dias atuais, dentro do contexto da Estrada Real, de CAMINHO VELHO.

Como seu próprio nome indica, o Caminho Velho é o trecho mais antigo de todo o trajeto. Ligando a Corte a Paraty por via marítima, e dali em burros e a pé, subia a Serra do Mar até atingir as minas, após a Serra da Mantiqueira. Foi aberto na segunda metade do século XVII, fruto das andanças bandeirantes, que, em busca de riquezas em Minas Gerais, partiam de São Paulo até atingir a Serra da Mantiqueira.

Gastavam os paulistas cerca de dois meses nessa empreitada, principalmente por não marcharem de sol a sol: logo após o meio dia, pouco depois de se arrancharem, partiam em busca de alimentos e, em muitos casos, plantavam uma roça para servir de alimentação em outra viagem ou no retorno. Alguns integrantes da tropa ficavam a cuidar desse roçado, embriões de novos arraiais, posteriormente cidades que hoje integram a rota piso de estradas e rodagem.

MARCA POSTAL TAMANDVA

MARCAS POSTAIS DAS VILAS "DA E DE FORMIGA"

O tempo gasto e o ataque constante de piratas moldaram a idéia de se fazer um novo caminho, mais curto e que levasse menos tempo até a capital. Garcia Rodrigues Paes, filho do bandeirante Fernão Dias Paes, foi o encarregado da empreitada. As tropas e os viajantes continuavam a encarar o novo caminho, com economia significativa do tempo de viagem. Postos de controle foram instalados em locais estratégicos para fiscalizar a circulação de pessoas e mercadorias pelos dois caminhos.

Esse trecho teve sua construção iniciada em 1698 e na época ficou conhecido como Caminho dos Cataguases. Garcia Rodrigues Paes comprometeu-se com o Governador Artur de Sá a fazer uma picada que levasse à Borda do Campo em pouco mais de quinze dias e não três meses como até então se despendia.

MARCA POSTAL CURVELLO

MARCA POSTAL TABOLEIRO GRANDE

Foi a segunda estrada, o CAMINHO NOVO, que nasceu da necessidade de uma via de escoamento mais rápida, mais segura e eficiente das minas para o porto e dali para Portugal, e que foi aberto a partir do Rio de Janeiro, passando pela atual cidade de Petrópolis em direção ao sudeste mineiro, até o ponto final, a Vila Rica.

Por volta de 1728, a Coroa Portuguesa determinou exclusividade do tráfego do ouro e do diamante pelo novo caminho.

 

Esta estrada, segundo carta de D. João V, de 5 de novembro de 1728, foi recomendada oficialmente a Luiz Vahia Monteiro, governador da Capitania do Rio de Janeiro (posse em 10 de março de 1725 e deposto em 1732 pela Câmara, por estar totalmente desprovido de juízo - História do Brasil, Varnhagem, 9.258) com a finalidade de evitar ataques dos corsários que, naquela época, infestavam o golfo angrense, tornando assim, mais seguro o transporte das mercadorias e, principalmente, dos quintos de ouro para aquela Corte.

Não havia ainda um serviço organizado de Correios. O sistema em vigor, o Correio-Mor, era exclusividade de família particular, por concessão Real. Há que se realçar que era privilégio de poucos: fidalgos, integrantes da Corte, doutores e reduzido número de pessoas da dita plebe, a arte de ler e escrever; assim, era escasso o movimento dos Correios. Quando era necessário, os senhores utilizavam escravos para conduzir suas cartas. Estes ficaram conhecidos na história como “Próprios”.

MADCA POSTAL C.DO SERRO PARA O RIO DE JANEIRO

Em 11 de agosto de 1798, a Junta Real de Administração e Arrecadação da Real Fazenda criou (regulamentado pela Rainha D. Maria I) o serviço de Correios da Colônia, colocando um ponto final no Correio-Mor.

Surgiram em Minas as primeiras vilas e suas agências postais: Vila Rica, Vila de Sabará, Vila de São João D’El Rei, Vila do Príncipe e o Arraial de Paracatu.

MARCA POSTAL PIRACATU

SOBRECARTA DE VILA DO PRÍNCIPE PARA O RIO DE JANEIRO

MARCA POSTAL DE SABARÁ

Em 5 de março de 1829, Sua Majestade, o Imperador D. Pedro I assina Decreto regulamentando os Correios no que é considerado o marco inicial desse serviço no Brasil.

SOBRECARTA DA VILLA DO PRESÍDIO DE UBÁ PARA VILA RICA COM CARIMBOS POMBA, BARBACENA E PREZÍDIO DE UBÁ EM PRETO DE 1842

Em 1 de agosto de 1843, é lançado o primeiro selo postal no Brasil - o segundo no mundo: o conhecido Olho-de-Boi, em três valores: 30, 60 e 90 réis.

Anteriormente, no chamado período pré-filatélico, não existiam correspondências seladas.

O CAMINHO VELHO

Partindo da Corte, na cidade do Rio de Janeiro, capital da Colônia, por via marítima chegava até Paraty.

SOBRECARTA COM CAMPANHA E IC DO OUROP

MARCA POSTAL SJOZE

De Paraty, por terra, cortava-se a Capitania de São Paulo, no lugar chamado Facão (atual cidade de CUNHA), onde uma bifurcação seguia, por um lado para Taubaté e outro para Guaratinguetá, via Lorena, onde se encontrava com o caminho dos bandeirantes paulistas que, descendo o rio Paraíba, iam à procura da garganta do Embaú, localizada nas proximidades da atual cidade de Cruzeiro, até Areias, ainda em São Paulo.

Ultrapassada a Serra da Mantiqueira, chegava-se às Minas, tendo em Passa Quatro a primeira povoação. A seqüência nos faz passar por Itamonte, Itanhandu, Virgínia, Maria da Fé, Aiuruoca, Cristina e Baependi.

SOBRECARTA COM CARIMBO AIVRVOCA

SOBRECARTA COM IC DO OUROP E BAEPENDI

Serranos, Cruzília, São Tomé das Letras, Caxambú, Lambari, Cambuquira e Três Corações são povoações adjacentes que, embora não estivessem na rota do Caminho Velho, dele faziam utilidade para suas obrigações, traslados e negócios.

Andrelândia, São Vicente de Minas, Piedade do Rio Grande, Madre de Deus, Carrancas, Ingaí e Nazareno são os arraiais seguintes, até que se chegue a SÃO JOÃO DEL REI, cabeça da Comarca do Rio das Mortes, um dos principais entrepostos do interior da Província.

SOBRECARTA COM CARIMBO S.JOAO DELREI

De São João Del Rei seguiam outros caminhos: O primeiro chamado Picada de Goiás, que levava àquela distante paragem, e que em seu caminho encontrava-se com as vilas de Tamanduá, Oliveira, Formiga, as quais se utilizavam desta picada para o encaminhamento de cartas, tropas, mantimentos e animais vivos até a capital VILA RICA.

Outro caminho seguia para o atual sul de Minas, em direção a Campanha, principal vila daquela região, via Lavras do Funil.

De São João Del Rei, o caminho prosseguia para a capital, através de São José (atual Tiradentes), Prados, Lagoa Dourada, Entre Rios de Minas, São Brás do Suassuí, Congonhas, até atingir VILA RICA.

O CAMINHO NOVO

Com o início do percurso pelo novo caminho aberto, saindo da Corte, subia a Serra dos Órgãos, passando pelas atuais cidades de Petrópolis, Areal, Paraíba do Sul, Três Rios, até adentrar a Província das Minas Gerais.

SOBRECARTA COM CARIMBO PARAHIBA DO SUL

A primeira visão era do Chiador e do Registro de Simão Pereira. Matias Barbosa, Olaria, Pequeri, e Lima Duarte são povoações que se valiam deste caminho para cumprir seus deveres e transitar até Juiz de Fora.

Chácara, Santana do Garambéu, Santa Rita do Ibitipoca, Piau e João Gomes (atual Santos Dumond) integram a etapa seguinte:

O próximo ponto de real importância é Sítio (atual Antônio Carlos), por se tratar de encruzilhada na qual, tomando-se a mão esquerda, seguia-se até São João Del Rei, Goiás e sul da Província. Ao lado do Caminho Novo encontramos Santa Bárbara do Tugúrio, Borda da Mata (atual Barbacena), Desterro do Melo, Carandaí, Lamim, Cristiano Otoni e Itaverava.

SOBRECARTA COM CARIMBO V.D.QUELUZ

SOBRECARTA COM C.D MARIANNA

A seqüência de nossa viagem pelo Caminho Novo nos leva a Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), Catas Altas da Noruega, Piranga, Ouro Branco e Itabirito.

Várias povoações se formaram se formaram ao longo do percurso ou a pouca distância do Novo Caminho e já nas proximidades da capital: Mariana, Nova Lima, Raposos, Rio Acima, Santa Bárbara, Santa Luiza, Itabira e a cabeça da Comarca do Sabará, a vila do mesmo nome.

O ponto final dos dois caminhos, o VELHO e o NOVO, era a VILA RICA, a principal comunidade e a mais rica do interior da Colônia, de onde uma velha rota levava ao arraial do Tejuco (atual Diamantina), conhecida como a rota dos Diamantes. Várias povoações e vilas se formaram ao longo de seu traçado, como Santa Rita Durão, Catas Altas, Santa Bárbara, Itabira, Conceição do Mato Dentro, Vila do Príncipe (atual Serro) e Diamantina.

 

Formas de Pagamento