A MAGIA DA FILATELIA – artigo 09
BISSETOS E TRISSETOS
Selos bissetos (metade do selo) não eram de caráter oficial, mas as cartas assim franqueadas, por falta de selos de porte, eram transportadas “sem objeção”.
O mesmo acontecia (muito mais raro) eram os trissetos (um terço do selo).
Dizemos “sem objeção”, pois em correspondência encontrada entre um diretor dos serviços postais do Paraná e um funcionário de uma agência postal existiam advertências para que o funcionário não permitisse o uso de selos cortados na correspondência. O funcionário, em contrapartida, alegava que havia solicitado os selos de 100 réis (porte da época) que ainda não haviam chegado. O funcionário também dizia que os usuários não desejavam empregar os bilhetes postais, já que com estes não havia o sigilo desejado. Os bilhetes postais do Império não foram bem recebidos, apesar do valor do porte ser inferior.
O diretor enviou mais de uma carta de advertência e o funcionário respondeu sempre da mesma forma. Isso mostra que apesar de não ser permitido o uso postal (½ ou 1/3 de selo), estes eram utilizados em pequenas localidades.
Pode-se perceber, também, que algumas destas cartas e envelopes foram empregados, provavelmente, por filatelistas já na época do Império.
As peças mais famosas deste setor da filatelia brasileira são:
O Trisseto de ANGOSTURA/MG e o Bisseto de CONCEIÇÃO DO CASCA/MG.
1887 – O FAMOSO TRISSETO DE ANGUSTURA/MG – rhm:44tss
4 de junho de 1887 – Envelope de Angustura/MG para o Rio de Janeiro com 1/3 do selo de 300 réis Dom Pedro II, Barba Branca. No verso dois carimbos. Um deles 4 de junho Rio de Janeiro (Noite) e outro 5 de junho (2ª). Existem três peças de Angustura/MG para o Rio de Janeiro. Uma delas está na página 193 do Catálogo Enciclopédico de Selos e História Postal do Brasil de 1999. Além desta, uma terceira foi encontrada em uma caixa, mas em estado de conservação lastimável.
1886 – SOBRECARTA DE BICUDOS PARA O RIO COM ½ SELO DE 1.000 RÉIS BARBA BRANCA – rhm:46bss
25 de maio de 1886 – Sobrecarta completa de Conceição do Casca/MG para o Rio de Janeiro com metade do selo de 1.000 réis Dom Pedro II, Barba Branca. No verso carimbo de chegada 30 de maio de 1886 em vermelho do Rio de Janeiro e quatro lacres. No interior da carta o remetente diz estar enviando 1.500 réis para a compra de palhetas Lefrere para clarinetas.
Do trisseto existem 3 peças, cada qual com 1/3 do selo de 300 réis Dom Pedro II, Barba Branca. Já do bisseto de Conceição do Casca existe uma peça com metade de um selo de 1.000 réis Dom Pedro II, Barba Branca. Nesta última, o texto é bastante curioso. O remetente solicita a compra de palhetas de clarinete. Esta carta apresenta ainda lacres no verso, caracterizando o envio de dinheiro (Money letter).
Existem diversas peças montadas de forma fraudulenta, bem como fragmentos forjados (fantasias). Recomenda-se que as peças sejam acompanhadas de um certificado de autenticidade.
NO SÉCULO XIX ISSO ACONTECEU TAMBÉM?
Até o dia 31 de dezembro de 1920 o porte de uma carta simples até 15 gramas era de 100 réis. Já no dia 1 de janeiro de 1921 até o dia 31 de dezembro de 1921 o porte aumentou para 150 réis para o mesmo tipo de correspondência. Neste ano de 1921 faltaram selos para os 150 réis e em alguns casos o selo de 100 réis foi cortado ao meio para compor o porte de 150 réis. No dia 1 de janeiro de 1922 o porte passou a ser 200 réis. Agora para cartas até 20 gramas.
A seguir um exemplo de bisseto na República.
1921 – ENVELOPE ENVIADO DE CAMPO ALEGRE PARA CURITIBA COM 1 ½ SELO DE 100 RÉIS
24 e maio de 1921 – Envelope enviado pela empresa Machado & Schuchovsky de Campo Alegre/SC para Curitiba/SC com 100 réis da série Vovó + metade de 100 réis da mesma emissão, completando o porte de 150 réis que era utilizado apenas no ano de 1921. No verso carimbo de chegada.
Posso afirmar que a filatelia tem mesmo QUASE TUDO. Este é o mundo mágico da filatelia e que talvez você não conheça.