CENTENÁRIO DA PACIFICAÇÃO DA BAHIA
A proclamação da Independência do Brasil foi recebida com restrições e resistência tanto no norte como no nordeste, principalmente em seus mais importantes centros comerciais, controlados por ricos homens de negócio portugueses. O foco da resistência mais sólido foi a Bahia, cujos líderes simplesmente se recusavam a aceitar a nova situação e estavam bem armados, em terra e no mar, sob o comando do general Inácio Luís Madeira de Melo. Para enfrenta-los, em 1823, José Bonifácio nomeou o general Labatut, ex-oficial francês do exército de Napoleão e que lutara ao lado de Bolívar, na Venezuela e na Colômbia, de onde se transferiu (porque foi expulso) para o Brasil. As tropas de Labatut se fixaram no Recôncavo Baiano, apertando o cerco para impedir o abastecimento dos revoltosos, enquanto a entrada e saída do porto eram bloqueadas por uma pequena força naval sob o comando de lorde Cochrane, oficial escocês expulso da marinha britânica (futuramente reabilitado) e que já atuara pela independência do Peru e do Chile. Mesmo assim, uma esquadra portuguesa conseguiu entrar, mas esse esforço só serviu para agravar o problema de falta de víveres na cidade. A nau capitânia do Brasil no cerco da Bahia “só tinha 170 marinheiros ingleses, consistindo o resto da equipagem em uma multidão de vagabundos apanhados nas ruas do Rio de Janeiro”, segundo John Armitage, historiador inglês autor de uma excelente História do Brasil e que, nessa ocasião, estava no Rio. Cercado por mar e por terra, o general Madeira decidiu, no dia 3 de julho de 1823, retirar da Bahia toda a guarnição portuguesa e voltar para Portugal, “levando quase todas as preciosidades das igrejas e da cidade, e os doentes e feridos; e com ele também embarcaram a maior parte dos negociantes, transportando consigo os seus cabedais”. Em mar aberto, prevaleceu a qualidade dos oficiais e marinheiros ingleses sobre o número dos navios inimigos. Cochrane perseguiu-os, um até a boca do Tejo, em Lisboa, e aprisionou vários deles com todas as suas riquezas, o que redundaria depois em prolongado conflito com o governo brasileiro sobre a divisão dos despojos.
A vitória na Bahia teve grande repercussão dentro e fora do Brasil e foi mais um episódio decisivo para a consolidação da independência e da unidade nacional.