ESCRAVIDÃO E A FILATELIA


A ESCRAVIDÃO E A FILATELIA

      A relação da escravidão com a filatelia no Brasil é bastante interessante. Com o às vezes restrito e insuficiente serviço postal oficial no grande território brasileiro, ou até mesmo para não fazer uso desse serviço, quem cumpria a função de estafeta era um escravo encarregado. Principalmente em distâncias mais curtas, o serviço feito por escravos tinha grande utilidade, o que nos mostra, diferentemente do que poderia imaginar o senso comum, que os escravos cumpriam diversas funções, não ficando só na lavoura  agrilhoados indeterminadamente. Isso não tornava porém, a instituição da escravidão em algo mais agradável e humano. Essa economia, ou seja, utilizar o escravo ao invés do correio oficial, mostrou-se em algumas situações pouco contraproducente ao permitir a fuga, e, consequentemente, a perda do escravo e a consequente não entrega da correspondência. Uma peculiaridade desse tipo de entrega é a ausência de marca postal decorrente do não pagamento de porte.

E1364-1856-CAPTURA DE ESCRAVO-CARTA DA POLÍCIA COM SP
1856 – Sobrecarta ao Sub-delegado da Polícia de Embaú com indicação SP = Serviço Público dando conta da captura de um escravo fugitivo capturado, cujos sinais são (pasme): Olhos vermelhos e falta de alguma unhas no pé. Uma peça histórica e muito interessante em bom estado de conservação.

      Se de um lado os escravos auxiliaram no serviço de correspondências, contribuindo para a comunicação; pelo outro, a vigoração desta instituição e suas conseqüências históricas foram deveras danosas ao país.

       Além de toda a desumanização e brutalidade da escravidão, do ponto de vista cultural essa instituição também foi muito perjudicial, com repercussões sérias até os dias atuais. O excesso de cativos no Brasil, uma população quase toda analfabeta, mais os livres, que na maioria eram iletrados, não contribuíram para um florescimento cultural de cariz letrado-literário. Ademais, a forma como a escravidão foi extinta, com uma inflexão brusca e sem suporte não vieram a mitigar a situação; pelo contrário, faiscou conflitos já ingentes entre proprietários e escravos. Essa atraso cultural verso ao pujante desenvolvimento socio-econômico estadounidense coopera para que as cartas enviadas em território brasileiro estivessem em termos quantitativos bem aquém dos Estados Unidos e alhures, o que torna a pré-filatelia brasileira muito mais rara e instigante. Resta-nos ainda a filatelia fiscal e a seguir encontamos alguns exemplos:

E14022-MEIA SIZA DE 1871-ESCRAVA

Campos/RJ, Imposto de Meia Siza de Escrava, 3 de agosto de 1871, com selo fiscal de 200 réis, denteado.

E14024-1884-MULTA DE AVERBAÇÃO DE UM ESCRAVO

Campos/RJ, Multa de averbação de escravo de 1 de abril de 1884 com selo fiscal de 200 réis, D. Pedro II, Casa da Moeda.

por Marcelo Prata Meyer

Historiador

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