JÚLIO VERNE
8/2/1828, Nantes (França) - 24/3/1905, Amiens (França)
“É o mais amável dos homens; muito tratável e despido de etiquetas; barba cerrada e já um tanto nevada (...) conversação animada...” Assim a edição de 16 de fevereiro de 1877 de A Província de São Paulo descreveu o Bretão de Nantes, Júlio Verne. Submarinos ainda não existiam quando, em 1870, apresentou a seus leitores as aventuras do Capitão Nemo em "Vinte Mil Léguas Submarinas", assim como satélites artificiais, a utopia higienista pós-Pasteur de "Os Quinhentos Milhões da Begum" (1879), ou dar a volta ao mundo a bordo de um balão, como propôs seu clássico de 1872, eram devaneios impossíveis fora dos terrenos da ficção. Seus leitores pouco sabiam sobre o centro da Terra, as profundezas do mar e do universo. "Da Terra à Lua", de 1865, propiciou uma inédita experiência de viagem espacial.
Numa época em que as limitações tecnológicas impossibilitavam a humanidade de realizar aventuras como as descritas, Verne, associando imaginação aos conhecimentos científicos de seu tempo ofereceu aos seus contemporâneos a experiência de escapismo num mundo carregado de realismo industrial e positivista. Sua obra marcou não apenas a história da literatura, mas a própria produção científica. Influenciou o aviador Juan de La Cierva a criar um protótipo primitivo de helicóptero, o autogiro. George Claude descobriu o principio da utilização da energia térmica dos mares inspirado pelo submarino Nautilus e Norbert Casteret tornou-se espeleólogo após ler "Viagem ao Centro da Terra" (1864).
Oriundo de família burguesa, poderia ter seguido a carreira jurídica à exemplo e gosto de seu pai. Chegou a estudar direito em Paris, mas quando “Cinco Semanas em um Balão” chegou às livrarias, às vésperas do Natal de 1863, sua nova e definitiva carreira se iniciou. A primeira edição esgotara em oito dias, rendendo-lhe um contrato com Pierre-Jules Hetzel, editor e amigo, influente no mercado literário francês. Sua editora contava com obras de Balzac, Victor Hugo e Stendhal.
Hoje, o escritor está fortemente associado à ficção científica, mas muitas de suas obras narram aventuras ao estilo de romances tradicionais de sua época. Muitas delas se referem a viagens a lugares exóticos situados em continentes distantes, geográfica e culturalmente, ou a saga de conquistadores, o que no contexto de imperialismo, tornava seus livros ainda mais interessantes para pessoas que não tinham acesso aos locais em que suas tramas estavam situadas. Obras de não ficção como "Os Conquistadores" (1870) e "A História das Grandes Viagens e dos Grandes Viajantes" (1878) são exemplos desta vertente.
Algumas de suas obras mais influentes são os chamados romances de antecipação, aqueles nos quais o autor exercita sua visão de futuro propondo cenários que, de pronto, passam a interferir no próprio tempo presente de quem os lê, instigando a curiosidade e levantando sérias reflexões. "Robur, o Conquistador" (1886) e "Paris do Século XX", escrito em 1864, mas lançado apenas em 1994, destacam o lado pessimista do autor e sua desconfiança no progresso científico em uma França de máquinas que ditam o ritmo de vida dos homens num futuro aterrador.