Vemos hoje na internet uma grande e crescente oferta de itens filatélicos. Seja pelas descrições vagas, imprecisas, pouco afeitas aos detalhes, seja pelos lances que tais peças recebem, é difícil não ficar com a impressão de que haveria por parte dos envolvidos um descaso, para não dizer um desconhecimento do que seria a qualidade. Mas o seria a “qualidade” na filatelia?
O termo “qualidade” remonta a “qualitas”, do antigo Latim, e quer dizer, na acepção que nos é relevante aqui, condição, estado ou natureza. Na filatelia, a qualidade diz respeito basicamente a aspectos como qualidade de impressão, tamanho das margens e a presença de defeitos.
Saber disso não é suficiente, todavia, para se avaliar um exemplar. Imagine um indivíduo que pela primeira vez na vida veja um selo postal. Apenas com ele em mãos, fica impossível saber se o exemplar em mãos tem margens grandes ou se está bem conservado sem um termo de comparação. É imperativo ter referências. Daí temos que a qualidade é algo relativo. Só o contraste nos permite avaliar as propriedades de uma determinada entidade.
Cada disciplina nos oferece diferentes formas de se fazer isso. No Baseball, um esporte que permite traduzir performance em dados numéricos com relativa facilidade, obtêm-se o valor o médio da liga para determinada estatística e a partir desse ponto pode se estabelecer quem está acima ou abaixo desse patamar.
A filatelia opera de maneira semelhante. A cotação de um selo no Catálogo representa uma referência para o exemplar médio. No caso rhm:021, conhecido como 280 “colorido”, o valor padrão para as margens é de 1,5 mm em cada lado.
O exemplar da imagem se aproxima bastante do que seria o selo padrão.
Já nessa imagem vemos um exemplar que pelas margens apenas não seria tão ruim. A sua impressão, no entanto, está bastante desgastada. Isso torna esse selo naturalmente menos interessante para um colecionador em busca de não apenas completar, mas também apurar a sua coleção.
Na outra ponta do espectro de qualidade temos o exemplar da imagem acima. Impressão nítida, papel claro, sem imperfeições e além de margens acima da média para essa emissão postal, esse selo ainda “roubou” um pedaço do selo de cima. Os oito selos vizinhos ficaram com a sua qualidade comprometida por conta desse belo exemplar.
E há ainda exemplares como o da imagem acima. Quanto mais distante da média o selo está – seja para um lado ou para o outro – mais irrelevante a cotação de Catálogo se torna para estimar o seu preço. A cotação é referência para um exemplar padrão, do meio da folha, mas o 280 acima é um canto de folha. Há no máximo 4 desses por folha e nem todos apresentam essa qualidade geral.
Cada emissão postal tem as suas peculiaridades. Em algumas delas devemos buscar por pigmentos azuis - ou pela sua ausência – ou por uma determinada espessura de papel ou até por uma filigrana em particular. O Catálogo é uma referência para o exemplar médio. Para realmente entender a qualidade, é imperativo que o filatelista observe um grande número de exemplares de cada emissão, os análise sempre que possível, para abalizar melhor o seu entendimento na hora da descrição e também da compra.
Por
Marcelo Meyer